“Eu acredito que a mulher tenha, sim, mais obstáculos do que os homens. É uma questão cultural, enraizada nas cartilhas mentais de governança, aliada a algumas correntes que as mulheres ainda arrastam, como a mística de que são mais susceptíveis emocionalmente, que a gestação e o afastamento pela maternidade pesam, e alguns outros estigmas, que acabam sendo gatilhos (ou desculpas) para postergações de conquistas na carreira”. A afirmação foi feita, nesta entrevista exclusiva, pela presidente da Delphos, Elisabete Prado, a mais nova associada da SOU SEGURA, e que engrossa o número de mulheres que assumem postos de comando nas empresas que atuam, direta ou indiretamente, no mercado de seguros.
Embora ressaltando que seria incorreto ser vista como “uma injustiçada”, ela admitiu que ao menos uma vez foi preterida mesmo em condições de igualdade em relação ao “oponente”, o que talvez tenha ocorrido pelo fato de ser mulher.
Sobre as qualidades necessárias para exercer cargos de comando, a executiva comentou que as mulheres costumam ser mais sensíveis, resilientes, defendem seus pontos de vista com assertividade, e, em geral, possuem uma boa capacidade de comunicação e de influência, porque socialmente foram acostumadas a ter que convencer. “Além disso, e, mais uma vez, por causa dos aspectos sociais de milênios, sempre tiveram que administrar várias frentes ao mesmo tempo (casa, trabalho, filhos), o que lhes conferiu uma característica mais holística”, acrescentou.
Elisabete Prado acentuou ainda que, na Delphos, as mulheres correspondem a 31% do contingente efetivo. Segundo ela, em termos absolutos, o número ainda é pequeno e precisa ser melhor equalizado.
Contudo, ressaltou que a Delphos, definitivamente, não tem um caráter preconceituoso ou de discriminação e que, talvez o segmento é que tenha conduzido a isso. “No passado, o interesse das mulheres nesse setor era menor. Eu mesma quando fiz meu curso de Atuária, convivia com uma turma em que 85% era de pessoas do sexo masculino”.
Mas, ressalvou que a empresa tem mulheres em posições muito relevantes, como, por exemplo, na coordenação das áreas de gestão de processos, Jurídica, RH, Segurança da Informação, Compliance, LGPD e Ouvidoria. “Não há um programa de incentivo específico para as mulheres, mas sim um estímulo constante aos cuidados com o encarreiramento de cada um, independente de sexo”, enfatizou.
Para a presidente da Delphos, as mulheres que gostariam de ingressar no mercado de seguros devem estudar, se atualizar e procurar ter uma visão bem ampla sobre os assuntos que tenham relação com esse setor e com os objetivos que desejam alcançar ou com as posições que pretendam disputar.
Além disso, frisou que é preciso haver um equilíbrio entre o comportamento emocional e o racional. “Não devem abrir mão da delicadeza que faz parte do traço feminino, mas tampouco permitir que isso seja confundido com sinal de fraqueza. E, por fim, que não valorizem nem alimentem essa questão de diferença de sexo e ajam de forma igualitária, pois muitas vezes a imaginação leva à equívocos e cria algo que só nela tem existência para justificar os próprios fracassos. Se querem ser líderes, que sejam primeiro líderes de si mesmas”, observou.
Quanto aos seus planos a frente da Delphos, ela revelou que o ex-presidente aprovou um orçamento muito arrojado, o que a leva a perseguir esses números para atingir o resultado esperado. As perspectivas do ponto de vista de negócios são alvissareiras, mas, em razão da pandemia, as coisas são um pouco mais difíceis e demoradas. “Já nas questões internas e corporativas, o time está bastante confiante e posso dizer que temos um respeito mútuo bastante consolidado”, asseverou.
SOU SEGURA. Em relação ao trabalho que vem sendo realizado pela SOU SEGURA, Elisabete Prado disse acreditar sinceramente que pode aprender muito com os talentos que fazem parte da entidade. E, com o tempo, espera somar esforços e colaborar de alguma forma para que o trabalho das mulheres seja melhor percebido e valorizado. “Agora que sou membro da SOU SEGURA, tenho recebido diariamente os clippings com as informações que são disseminadas, bem como as publicações com conteúdos muito relevantes. Nesse pouco tempo, já pude perceber o quão nobre é a tarefa da associação, a qual já tem o meu respeito e a minha total admiração”, elogiou.
TRAJETÓRIA. Formada em Cências Atuariais, Elisabete Prado foi admitida na Delphos em 1980 como analista de sinistros de danos materiais, sem que até então, tivesse feito sequer uma visita a uma seguradora e tivesse qualquer experiência no setor. Rapidamente avançou para encarregada da área. Depois, para subgerente de sucursal, gerente de sucursal, gerente regional Sudeste, diretora adjunta de Corporações, diretora Comercial e de Marketing até chegar à vice-presidência e, finalmente, presidente da Delphos.
Fonte: Sou Segura