Mulheres são maioria no setor de seguros, mas participação em cargos de liderança no alto escalão nas empresas é menor em comparação aos homens.
Em 2010, Kathryn Bigelow conquistou o Oscar na categoria “Melhor Direção” com o drama “Guerra ao Terror”. Ela foi a primeira diretora a levar a estatueta para casa após mais de 80 edições.
Dezenove anos antes, a Copa do Mundo feminina dava seu pontapé inicial, enquanto a masculina já tinha fincado suas raízes na cultura do torcedor. No Brasil, as mulheres tiveram direito ao voto somente em 1932, e a primeira chefe de Estado foi eleita pela República depois de 121 anos da proclamação.
Em toda a parte do mundo, as civilizações foram constituídas pelo patriarcado, cujo as suas sequelas são sentidas até os dias atuais. “Ainda muitas mulheres são acometidas pela ‘síndrome do impostor’, um sentimento de insegurança e incapacidade de internalizar o sucesso”, explica Stephanie Zalcman, diretora técnica de Operações e Estruturação da Wiz Corporate.
Stephanie é também embaixadora da Sou Segura, uma associação que trata de desenvolver a equidade de gênero no mercado segurador e preparar mais mulheres para cargos de liderança. “Dando oportunidades para que elas façam mais networking, se preparem e se sintam seguras para assumir posições altas e também motivar as empresas a se engajarem nesse projeto”, apresenta.
A proporção de mulheres em cargos de liderança em seguradoras ainda é menor em relação aos homens, segundo o estudo Mulheres no Mercado de Seguros de 2022, desenvolvido pela Escola de Negócios e Seguros (ENS). Atualmente, há 2.2 diretores homens para uma mulher. Em 2012, ano de lançamento da primeira edição do material, para cada quatro executivos existia uma diretora.
“Eu confesso que me surpreendi um pouco nas primeiras reuniões com pessoas do mercado de seguros no qual é notável a massiva presença masculina”, lembra Rosana Passos de Pádua, CEO da Coface Brasil. “(…) mas, também fiquei positivamente surpresa com a quantidade de mulheres à frente de seguradoras no Brasil. Então, considero que estamos no caminho certo na formação e desenvolvimento de liderança feminina na área de seguros”, complementa.
O relatório Women in Business 2022, da Grant Thornton, mostra que 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres. Em 2019, a mesma pesquisa mostrou que apenas 25% das posições de liderança estavam sob o comando feminino.
Quando chegou em 1980 na Delphos, Elisabete Prado, hoje CEO da companhia, deparou-se com um mercado que dava poucas expectativas para uma mulher postular funções de influência na empresa. “As posições designadas às mulheres eram basicamente para cargos de níveis baixos ou intermediários. Porém, as exigências eram iguais ou até mais rigorosas do que era esperado dos homens. Debates sobre o tema só começaram a ser relevantes depois dos anos 2000”, recorda.
Por décadas, as empresas se espelharam nas entidades representativas do setor de seguros nesse tema. Isso porque a maioria delas, mesmo tendo centenas de anos de existência, jamais teve uma liderança feminina. O Clube dos Corretores de Seguros do Rio de Janeiro (CCS-RJ) andou na contramão desse cenário recentemente com a eleição de Fátima Monteiro como a primeira mulher presidente do clube.
Fátima lembra como se iniciou a participação mais efetiva de mulheres na entidade. “Quando Amilcar Vianna assume como presidente do clube, ele passa a convidar mulheres para serem sócias em um mundo extremamente masculino como todo mercado de seguros. Éramos quatro mulheres audaciosas e aos poucos fomos mostrando nossa capacidade, fazendo eventos e buscando parcerias de extrema importância”.
Em pauta nas empresas
A diretora da Wiz lembra que hoje as mulheres já são maioria no setor de seguros, representando 59% da força de trabalho. Porém, em cargos executivos elas ainda são pouco representadas. “Quando olhamos para as posições na liderança, os homens têm 3,5 vezes mais chances de ser um executivo na empresa e duas vezes mais chances de ser um gerente da companhia”.
Stephanie salienta que dentro do Grupo Wiz Co são aproximadamente 123 mulheres ocupando cargos de liderança, representando 47% do total. “Esse percentual deve seguir crescendo. Não queremos sobrepor as mulheres aos homens, mas que haja igualdade”.
“A diversidade tem ganhado espaço em empresas de todos os setores e, felizmente, também no mercado de seguros, que há muito era tido como masculino. Mulheres e homens pensam diferente e isso traz uma combinação fundamental para atingir alta performance nas equipes”, pondera Stephanie.
Rosana ressalta que na Coface Brasil a política de igualdade de gênero também é implementada. “Tenho a felicidade e o orgulho de estar em uma empresa na qual a disparidade entre homens e mulheres é praticada. Minha chefe, Marcele Lemos, CEO da Coface América Latina, é uma mulher e mais de 50% do time gerencial da Coface aqui no país é formado por mulheres”.
Menos diversidade provoca um rendimento menor nas companhias. Foi o que apontou o estudo da empresa de consultoria empresarial McKinsey & Company em 2022. De acordo com o levantamento, empresas com menor índice de diversidade cultural e de gênero tendem a render até 29% menos em relação aos seus concorrentes do mesmo setor.
Na análise da CEO da Coface Brasil, ambientes diversos, além de serem bem produtivos, também são mais atrativos e mais divertidos. “Hoje somos 55% mulheres e 45% homens em termos de quadro total. Eu acredito em todas as formas de diversidade, pois um perfil completa o outro. Para isso, a empresa tem que trabalhar os valores e, sobretudo, o respeito às diferenças e o convívio e aprendizado mútuo”, pondera.
No CCS-RJ, Fátima promete impulsionar a participação de mulheres durante a sua gestão. “Quero aumentar o número de sócias mulheres para que haja uma maior integração em nosso universo do clube. O intuito é que aos poucos ele seja misto em um ambiente no qual a mulher seja vista com o olhar clínico de profissional de seguros em sua plenitude”.
Elisabete sempre teve anseios de crescer profissionalmente e se esforçou para conquistar seu espaço, mesmo sem ter tantas referências profissionais no setor de seguros. A executiva acredita que existem princípios básicos que as mulheres em início de carreira não devem abrir mão.
“Precisam se preparar com muito estudo, leitura, autoconfiança e autoestima. Além de desenvolverem habilidades de influências positivas sobre suas equipes, aprenderem a fazer uma diligente gestão do tempo e fazerem conexões estratégicas com honestidade suprema”, recomenda a CEO da Delphos.
Todas as executivas de hoje já vislumbram no início grandes passos na carreira profissional, mesmo com tantas dificuldades que as relações sociais impõem no cotidiano. Para que as experiências sejam usufruídas por todo mundo, independentemente de cor, raça ou gênero, é necessário o esforço conjunto no fortalecimento dessas discussões cada vez mais acaloradas no mundo corporativo.
Fonte: Seguro Nova Digital